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Montezuma Cruz – Histórias de um repórter andarilho (I-III)

Publicado em: 14/09/2014 - 12:00
Montezuma Cruz – Histórias de um repórter andarilho (I-III)

  Se fossemos publicar o currículo do nosso entrevistado, jornalista e escritor Montezuma Cruz, não teríamos espaço para a entrevista. As histórias do Montezuma são vividas em praticamente todas as regiões brasileiras. Ele vai do Sul ao Norte e do Sudeste ao Nordeste num piscar de olhos. Ao mesmo tempo em que registra a guerra dos índios Suruis X Zorós e os policiais comandados pelo famoso delegado Fleury de São Paulo serem mortos em confronto com contrabandistas de cassiterita em Rondônia, viu os brasileiros (Brasiguaios) serem incentivados a plantar soja no Paraguai e hoje serem expulsos, acompanhou a Embrapa descobrir o DNA da mandioca. “A Mandioca nasceu há mais de 10 mil anos numa localidade perto de Porto Velho e hoje existe em mais de 150 países” assim como viu nascer o Mercosul em 1991. São tantas histórias vividas pelo Montezuma que resolvemos, para não perder nenhum detalhe, dividi-las em três capítulos ou edições deste jornal. O primeiro capítulo você passa a acompanhar a partir de agora:

 

E N T R E V I S T A

 

Zk – Quem é o Montezuma

Montezuma Cruz – Sou paulista de Presidente Prudente tenho 61 anos de idade, trabalho há 41, comecei no interior de São Paulo, tenho uma trajetória entre a fronteira Brasil, Paraguai e Argentina até o estado do Maranhão, passei por Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e Bahia.

 

Zk – Desde quando em Rondônia e em quais empresas?

Montezuma Cruz – Entre 1976 e 1986. Comecei no jornal A Tribuna, depois trabalhei no O Guaporé, Estadão do Norte, Empresa Brasileira de Noticias e sucursal do jornal O Parceleiro. Fui correspondente do jornal do Brasil, Folha de São Paulo e O Globo.

 

Zk – Dentre os jornais de Rondônia qual o que você passou mais tempo?

Montezuma Cruz – A Tribuna. Foi no período conhecido como da colonização, viajei bastante pelo interior de Rondônia e coletei muitas informações a respeito da vida das famílias de migrantes dos projetos do INCRA e muitas visitas a aldeias indígenas não só de Rondônia, mas, do sudoeste do estado do Amazonas e algumas no estado do Acre. No jornal O Guaporé foi o período das coberturas urbanas a respeito da vida no bairro do Triângulo, movimento sociais, direitos humanos, terra e mineração. Havia uma corrida muito grande pela cassiterita e havia uma proibição antiga da Portaria do Ministério das Minas e Energia que impedia os garimpeiros de minerar aqui. Existia uma mineradora poderosa chamada Paranapanema, lembro que o advogado Acir Bernardes mandoubuscar em São Paulo a pedido dos diretores da empresa, policiais supervisionadospelo famoso delegado Fleurypara perseguir garimpeiros nas matas da região de Ariquemes.

 

Zk – Houve confronto entre policiais e garimpeiros?

Montezuma Cruz – O delegado Fleury mandou pra cá, policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais – DEIC e esses policiais se embrenharam nas matas de Ariquemes e sofreram revés muito grande e alguns morreram no confronto com contrabandistas de minério que na verdade, eram ligados a traficantes de cocaína e esse minério ia pra Bolívia em vez de ir para Volta Redonda no Rio de Janeiro, isso deixou Rondônia numa situação muito difícil porque a polícia local não dava conta de conter esse contrabando. Só uma vez que o delegado de Patrimônio Walderedo Paiva conseguiu prender os traficantes que atuavam em Campo Novo e Bom Futuro.

 

Zk – Você conhece muitas histórias do tempo da colonização de Rondônia?

Montezuma Cruz – Existem as histórias pitorescas e algumas tristes, por exemplo: no Centro de Triagem em Vilhena o sujeito vinha do Paraná em busca de uma vida melhor em Rondônia e trazia até cachorro vira lata pra vender. As histórias sobre a vida sem recursos de quem vivia no interior assentados pelos Projetos do INCRA. Quando era coordenador aqui o Bernardes Martins Lindoso ele não gostava das reportagens da Tribuna. A gente mostrava, por exemplo: Os Projetos Riachuelo em Ji Paraná e o Rolim de Moura onde as pessoas não tinham recursos e conviviam com a malária e morriam dentro de suas próprias terras e os sepultamentos eram feitos em redes. Isso foi motivo de muitos discursos do Jerônimo Santa na Câmara dos Deputados. Naquele tempo se não se publicasse nos jornais e transmitisse a noticia pelas rádios ninguém ficaria sabendo. Mesmo com todas as dificuldades que Ji Paraná enfrentava, exportava arroz pra Bolívia, ao mesmo tempo faltava óleo diesel e a Ceron promovia aqueles racionamentos de energia e a Petrobras não permitia que o senhor José Gomes (presidente da Ceron) comprasse fiado e ele chorava as mágoas pros jornalistas e a gente publicava na Folha de São Paulo.

 

Zk – Quem fazia parte da equipe da Tribuna?

Montezuma Cruz – A Tribuna era um jornal formidável, quando cheguei o jornal já estava plantado desde 1975, Vinicius Danin foi um dos precursores, Lucio Albuquerque e Ivan Marrocos que vieram de Manaus e também existiam os repórteres entre eles um com expressão nacional, era Edson Luiz Ferreira que era do Acre mais começou a carreira aqui, depois trabalhou no Correio Brasiliense, no Zero Hora, no Estado de São Paulo e foi assessor do Ministro da Justiça Marcio Tomaz Bastos; O Nonato Cruz também começou sua carreira na Tribuna por onde também passou Vismar Cafury e colunistas notáveis, entre os quais a gente destaca o Robertinho Vieira.

 

Zk – Por falar em Roberto Vieira o Lucio Albuquerque sugeriu que eu perguntasse sobre uma determinada viagem a mineração e um robe cor de rosa. Por que o Lucio insiste tanto nesse episódio?

Montezuma Cruz – Essa história é um pouco fantasiosa. Fomos auma festa numa mineração a convite da direção e ao chegarmos, não tinha aonde dormir a não ser em redes, pois todos os acampamentos estavam ocupados e eu consegui um quarto a muito custo, aí os amigosespalharam que eu havia dormido com o Robertinho Vieira. Pior era que o Robertinho ria da história, mas, não desmentia e então ficou essa crença de que nós havíamos dormido juntos. Pura gozação do Lúcio. Frequentei muitas festas nesse interior e tive a sorte de conhecer a vida interiorana como ela era nas glebas, nas minerações e até nas terras indígenas.

 

Zk – Tem alguma história que envolve índios?

Montezuma Cruz – A gente ia muito com o Apoena Meirelles às aldeias e os índios viam relógios em nossos pulsos e queriam trocar por missanga, pra eles era o mesmo valor e muitas vezes o Apoena tinha que advogar a nosso favor para não sairmos sem o relógio. Fico surpreso que depois de muitos anos, aqueles índios que eram guerreiros que usavam flecha para espantar os Capixabas que estavam ocupando a terra deles por um erro da colonizadora Itaporanga que permitiu que eles invadissem a terra Suruí. Lembro-me que em 2010 voltei lá depois de mais de trinta e cinco anos e encontrei os mais velhinhos gordinhos, o Pajé e o Almir Suruí apresentaram-me os antigos,que hoje são pais e avós e os meninos estudam em Cacoal, houve uma integração muito grande com a sociedade, eles usam computadores, fiquei surpreso em ver aqueles mapas que naquela época não tinha, eles eram roubados na madeira e no peixe. Hoje você vê esses índios fazendo planejamento para os próximos 50 anos, para que essa floresta fique em pé, para eles quem sabe, ganharem crédito de carbono. O único deputado que brigava por eles Eduardo Valverde morreu e a Comissão Especial de Mineração na Câmara fraquejou e só se vê deputados paulistas interessados no minério de diamante um mercado regulado pelos Judeus.

 

Zk – O que mudou do jornalismo daquela época para o de hoje?

Montezuma Cruz – Hoje não se vê mais uma Rondônia como naquela época. Os jornais não fazem mais coberturas, as televisões de vez em quando fazem. Nós tivemos sorte em contar com patrões muito bons como seu Emanuel Pontes Pinto e o Rochilmer Rocha, por exemplo, eles gostavam que a gente viajasse. Paulo Queiroz era o editor do O Guaporé e quando eu trazia as matérias da colonização da região de Vilhena, Cabixi, Chupinguaia, Colorado e Cerejeiras ele abria manchete. Nunca me esqueço de duas manchetes: “Só resta mesmo a gleba que um dia foi Prosperidade” e a outra é “Uma aventura, mata adentro”, mostrando os colonos gaúchos chegando à região de Vilhena. O Guaporé era um jornal guerreiro, corajoso embora tenha sido um jornal no passado, ligado a Aluízio Ferreira, mas, nos anos oitenta, abriu espaço, muita gente se revelou ali.

 

Zk – O que o levou a se tornar, vamos dizer assim, num repórter andarilho?

Montezuma Cruz – Foi aqui mesmo. Saí de Presidente Prudente e fui pra Campo Grande, estava com 22 anos de idade, com a intensão de realizar um sonho que era conhecer a Madeira Mamoré. Via na revista O Cruzeiro matérias sobre Rondônia e fiquei querendo saber mais. Em Campo Grande aprendi a fazer reportagem policial na rádio Cultura e no jornal Correio do Estado. De lá eu pedi ao correspondente da sucursal da Folha de São Paulo Fernando Bastos para me transferir para Porto Velho e vim no peito e na raça e fiquei por dez anos com direito algumas idas e voltas graças ao Vinicius Danin que me arrastava para trabalhar no Diário de Cuiabá. Na somatória dessa década consegui ser andarilho por aqui, visitando as aldeias indígenas. O Odacir Soares mesmo, me convenceu a acompanhar o Francelino Pereira presidente da ARENA nas viagens pela Amazônia. Daqui fui pra Cuiabá de lá pra São Luiz do Maranhão onde trabalhei um ano no jornal do Zé Sarney.

 

Zk – Essas viagens com Francelino te levaram a ser assessor parlamentar em Brasília?

Montezuma Cruz – Não! Foi depois, fiquei seis anos em Foz do Iguaçu (de 91 a 96) na Folha da Fronteira depois de ter trabalhado em Maringá, quando sai de Foz fui pro interior de São Paulo trabalhar num jornal pequeno chamado “Debate” em Santa Cruz do Rio Pardo durante dois anos e então os amigos de Brasília me chamaram para fazer cobertura dos comícios do Joaquim Roriz para o grupo do Cristóvão Buarque isso em 1998. Certo dia encontrei o Cristóvão num churrasco na casa do Amir Landoe ele perguntou se era eu que fazia os relatórios, pensei comigo, ele vai me arrumar um emprego, que nada, quem me empregou foi o Amir Lando. Fiquei seis anos assessorando o Amir.

 

Zk – E as viagens continuavam?

Montezuma Cruz – Em 2006 trabalhava no Diário do Norte em Maringá e voltei para Brasília e encontro Fernando Melo deputado federal pelo Acre, foi aí que aumentaram as viagens, conheci mais rios, mais pessoas, mais estados. Entramos em boa parte do Pará, fomos a Bahia e no Acre só não conheci Tarauacá, cheguei até o Peru. Fernando Melo defendia o melhoramento genético da Mandioca, aliás, a Mandioca é da Amazônia, segundo DNA da Embrapa, nasceu aqui perto de Porto Velho há mais de 10 mil anos, está em 150 países. Então essa minha vivencia é mais amazônica do que sulista embora tenha ficando durante seis anos na fronteira Brasil, Argentina e Paraguai e ali viajei bastante pra conhecer a realidade Argentina e a realidade do Paraguai. Posso dizer que não conheça Buenos Aires, mas, conheço toda a região de Missiones. Ali a gente constatou que a pobreza era tripla. No tempo da ditadura de Alfredo Stroessnerlevaram muitos brasileiros pra lá e plantaram muita soja e de uns tempos pra cá, vem expulsando o que chamam de brasiguaios e esses colonos vem pras terras do Pontal do Paranapena. Na Argentina vi adolarização levar o país ao fundo do poço no governoMenem e no período de 1991 vi nascer o Mercosul.

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