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”Espanha esquecida” pede mais gente e trabalho para o interior despovoado

Publicado em: 08/11/2019 - 12:00
”Espanha esquecida” pede mais gente e trabalho para o interior despovoado

 

San Martín del Pedroso é a primeira localidade espanhola no outro lado da fronteira de Quintanilha onde os pedidos para as eleições de domingo são mais gente e trabalho num povo invadido pelo silêncio e vazio do despovoamento.

Serão “30 ou 40” os que vivem no buraco moldado pela natureza onde está encaixada a aldeia e que ficou mais fundo depois de os portugueses terem construído a autoestrada A4 e a nova ponte internacional sobre o rio Maças, que desviou o trânsito da nacional espanhola 122, que atravessa a localidade.

Encontrar gente é, como constatou a reportagem da Lusa, o mais difícil neste povoado de Espanha separado de Portugal pelo rio Maças, e que partilha com as aldeias portuguesas que o rodeiam o envelhecimento e despovoamento.

A presença de estranhos desperta a atenção de duas mulheres que espreitam à porta e se afastam mal avistam uma câmara, desculpando-se com a falta de tempo numa localidade onde a única que corre é a carteira a distribuir o correio do dia.

Na correspondência sobressaem cartas de propaganda política a apelarem ao voto nas eleições de domingo em Espanha. Se vai votar ou não, “depende de como estiver o dia” e nada mais diz a carteira. As eleições são importantes e vai votar no domingo, “mas não há tempo para estar atenta” diz também Montserrat Blanco, das mais novas a viver permanentemente no povoado.

Aqui nos povos espanhóis vivem-se menos as eleições do que em Portugal. Em Portugal nota-se mais ambiente, mais carros e festas e coisas e aqui não se vive tanto. Os políticos vêm pouco aos povos pequenos”, disse à Lusa.

Políticos nacionais nunca viu por ali, mas se pudesse fazer um pedido a quem decide os destinos do país, Montserrat “pedia trabalho próximo para que as pessoas não vão embora porque os poucos que há têm de ir-se embora”. Ela vai e vem todos os dias para o trabalho, nas bombas de Sejas de Aliste, onde os portugueses vão abastecer gasolina por ser mais barata.

Tem uma filha pequena que tem de ir à escola a Alcañices, alguns quilómetros mais à frente, num autocarro que vai “quase vazio porque não há crianças nestes povos“. Em San Martin há três crianças que têm um parque infantil e um campo de futebol.

Antes de construírem a ponte da autoestrada portuguesa, a localidade era mais movimentada. Tinha “dois comércios, quatro bares e agora nada”. No lugar de uma das lojas onde ainda há poucos anos portugueses e espanhóis faziam compras, há agora letreiros de um clube chamado “Lisboa” associado à diversão noturna com mulheres. A poucos metros está o Centro de Cooperação Policial e Aduaneira de Quintanilha, com polícias portuguesas e espanholas e, entre os dois, um café fechado por volta da hora de almoço com um maço de cartas de propaganda política encaixado na porta.

No centro do povo vive a portuguesa Maria da Graça, a quem a velhice levou para junto do neto emigrado e casado em Espanha. É de São Julião, aldeia do concelho de Bragança, “uma aldeia grande”, como fez questão de vincar, mas parecida com San Martin del Pedroso. “É como aqui, está tudo para o estrangeiro. Está a mesma coisa. Agora não há trabalho para ninguém”, sustentou.

Tal como nas aldeias portuguesas, também neste povoado espanhol o verão é sinónimo de mais gente com o regresso dos que estão fora para férias.

Santiago Ribas Garcia está reformado e divide agora o tempo entre San Martin e Madrid, a 350 quilómetros. Todas as eleições são importantes, como defendeu, porém estes povos estão mais virados para a proximidade dos ayuntamientos (as autarquias locais espanholas), províncias, diputaciones e as próprias regiões, num sistema de regionalização que não existe em Portugal.

Nós dependemos da comunidade autónoma de Castela e Leão e esses são os que distribuem depois dinheiro pelas províncias e cada província tem a sua autónoma, as diputaciones, que distribuem o dinheiro pelos povos. O que lhes cabem até dão, normalmente, não temos razão de queixa”, explicou à Lusa.

Aos 90 anos, a reforma é mais do que suficiente para a mãe, Cármen Gago, que já não pede nada aos políticos, enquanto o filho gostaria que mais gente se instalasse nestas regiões, apesar de reconhecer que “é difícil, mesmo para a agricultura é preciso fazer investimentos grandes”.

A casa da família fica junto à estrada nacional que perdeu o trânsito com a nova ponte internacional e lhes tirou o supermercado ali perto “que tinha tudo”. Agora têm de ir às compras a Travassos ou Alcañices e também a Bragança, porque a cidade portuguesa tem tudo, “e fica a um quarto de hora”. Cármen vai a Travassos, no domingo, mas para votar como os habitantes de cinco povoados que fazem todos parte do mesmo município.

O filho já votou por correspondência e o neto, de nome também Santiago, antevê que “irá haver menos participação” nestas eleições. “Estamos um pouco cansados. Tivemos muitas eleições este ano, entre as gerais e das comunidades autónomas e a verdade é que estamos um pouco desanimados”, afirmou.

Santiago vive em Madrid e está de férias em San Martin, onde, à semelhança de outras pequenas localidades espanholas, “interessa mais a política local porque é a que contribui mais para a melhoria dos povos”. Povoados que, como observou, são a “Espanha olvidada (esquecida)” que já foi lema de outras campanhas, mas que continua a perder gente e serviços, como o médico que agora lhes querem tirar.

 

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