O Senado Federal inaugurou, nesta sexta-feira (1°) um sistema eletrônico de controle de presença. É uma tecnologia desenvolvida para fazer com que os funcionários cumpram direitinho a jornada de trabalho. Mas a reportagem de Camila Bomfim mostra que a novidade não tem aquela eficiência toda.
Controle pelo crachá e impressão digital, mas a tecnologia que custou mais de R$ 1 milhão não vale para todo mundo.
“Não sei se é tão eficiente assim, porque para os gabinetes continua do mesmo jeito, ou seja, o ponto facultativo nos gabinetes. Cabe ao parlamentar decidir se vai ter que bater ou não”, destacou o funcionário do Senado Mário Sérgio Nicolau.
Estão livres do controle cerca de 1.060 funcionários, de um total de 6 mil concursados e comissionados. A diretora-geral, a secretária-geral da Mesa Diretora, diretores e chefes, indicados políticos nos gabinetes liberados pelos senadores e funcionários que trabalham nos escritórios nos estados. O senado não informa o nome desses funcionários. Mas confirma que eles não podem trabalhar em casa, nem se forem liberados pelos chefes.
Uma funcionária que trabalha há quase 20 anos no Senado, nesta sexta, bateu ponto e foi embora às 8h. Seguiu para um prédio, em um bairro nobre de Brasília. Por telefone, os colegas confirmam o horário de trabalho dela.
Repórter: Geralmente de 8h às 18h, se eu ligar, eu consigo falar com ela?
Funcionária: Isso. Eu acho que ela não chegou, não está ainda aqui.
Durante dois meses, o Jornal Nacional acompanhou casos semelhantes. No dia 14 de fevereiro, uma servidora que trabalha no Senado desde 1982 bateu ponto antes das 8h. Um homem ficou esperando no carro. Dez minutos depois, eles foram embora. Chegam em casa 8h12. No dia seguinte, a mesma coisa. Só mudou o carro que a levou ao trabalho.
Fontes do Senado confirmaram ao Jornal Nacional que as funcionárias flagradas bateram o ponto, apesar de não ficarem no trabalho.
O presidente do Senado, José Sarney, foi informado dos flagrantes pela equipe. “Nós vamos ter que responsabilizar aqueles que permitirem fatos dessa natureza. Porque isso é enquadrado como crime funcional”, afirmou.
A polícia do Senado investiga outra suspeita de irregularidade com o ponto eletrônico. Uma secretária que não teve o nome revelado seria encarregada de bater o ponto para 20 colegas de gabinete. Eles recebiam o salário integral, mesmo sem aparecer no trabalho. O caso teria ocorrido no ano passado, quando o ponto no Senado era registrado no computador, com a senha do funcionário.