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Estudo revela impacto da pandemia da covid-19 no tráfico de drogas no Brasil

Publicado em: 10/12/2021 - 3:19
Estudo revela impacto da pandemia da covid-19 no tráfico de drogas no Brasil

A pandemia da covid-19 tornou-se uma grande intervenção natural em diversos mercados lícitos e ilícitos ao redor do mundo. Com as restrições de viagens e as políticas de distanciamento social implementadas, novas dinâmicas e desafios surgiram em diversas esferas da sociedade e afetaram o trabalho das instituições ligadas à repressão e à fiscalização do tráfico de drogas, assim como a atuação de grupos criminosos nesse mercado.

Como parte de um esforço global para assimilar as mudanças ocorridas em função da atual crise sanitária, o Centro de Excelência para a Redução da Oferta de Drogas Ilícitas (CdE), uma parceria entre o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), desenvolveu um estudo estratégico sobre o impacto da pandemia no tráfico de drogas no Brasil. O relatório foi produzido com apoio do Departamento de Pesquisa e Análise de Tendências do UNODC em Viena, Áustria.

A Chefe da Seção de Pesquisa sobre Drogas do UNODC em Viena, Chloé Carpentier, explica que a meta inicial do estudo era entender, a partir da análise de apreensões de drogas, o impacto potencial da pandemia nos mercados de drogas no Brasil, em termos de mudanças, importações, exportações e tráfico, mas, também, em um contexto regional. “Estamos trabalhando, em parceria com o CdE, em uma análise complementar focada no mercado de cocaína para o próximo ano. O que encontramos, de forma preliminar, é que apreensões de cocaína menores, com menos de 200 kg, aumentaram durante a pandemia, enquanto as maiores, acima de 200 kg, diminuíram”, afirmou.

Dados de diversas instituições do país, bem como pesquisas de campo com profissionais da segurança pública no Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo foram utilizados para a pesquisa. Na publicação, um mapa inédito com as principais rotas de entrada, transporte e saída de drogas do país oferece subsídios sobre a dimensão desse mercado ilícito. De acordo com o documento, há diversas rotas utilizadas pelo crime organizado para o tráfico de drogas no país, que seguem em constante transformação, e o Brasil continua sendo uma região estratégica para o trânsito de cocaína – que sai de países andinos com destino à Europa e à África. Além disso, durante a crise sanitária, observou-se uma forte resiliência por parte das organizações que atuam no tráfico de drogas, com capacidade de adaptação e diversificação de rotas conforme a necessidade.

Com relação à cocaína, notou-se que o Brasil segue como um ponto de exportação da droga para outros países e continentes, embora um decréscimo de 20% na quantidade de cocaína apreendida tenha sido observado no período de pandemia. Ainda assim, verifica-se um elevado volume de cocaína no Brasil, o que confirma o país como um ponto de trânsito da cocaína, especialmente para o mercado europeu. Por outro lado, as apreensões de maconha e derivados mais do que dobraram na pandemia. De acordo com dados da Polícia Federal, aproximadamente o dobro da quantidade de maconha e derivados (haxixe e skunk) foi apreendida durante a pandemia em comparação ao período anterior de doze meses, em um aumento de 112%. Já com

Resiliência das organizações criminosas

De acordo com o Coordenador do CdE, Gabriel Andreuccetti, os especialistas do Centro de Excelência, aliados à expertise do UNODC em Viena, reuniram dados provenientes de diferentes fontes de informação e integraram esses números a fim enxergar o cenário das apreensões de drogas como um todo. “Observamos que as organizações criminosas têm estruturas dinâmicas e flexíveis, capazes de se adaptar constantemente, mesmo frente a enormes desafios como a pandemia da covid-19. Com a integração e análise dos dados, o CdE pode auxiliar na construção de novas estratégias para os agentes de segurança pública frente à essa capacidade de adaptação do crime organizado”, afirma.

Indícios de alterações nas rotas apontam para essa resiliência do tráfico. As organizações criminosas tiveram que se adaptar às mudanças na atuação policial. Em um cenário de aumento da fiscalização, menor movimentação em rodovias e restrições de deslocamento, interlocutores do estudo relataram que o tráfico precisou aliciar mais pessoas, sobretudo para a função de “olheiro”, indivíduo que monitora o trabalho policial. Além disso, para evitar perdas maiores, traficantes seguem a tendência de se unir em consórcios. Segundo alguns policiais entrevistados, parte da explicação do expressivo aumento das apreensões foi o fato de os traficantes se juntarem em pequenos grupos, como um consórcio, para transportar cargas de maconha.

O tráfico por meios digitais segue em alta. Também houve relatos de um aumento na venda de drogas através de aplicativos de telefone, prática conhecida como delivery de drogas ou disk drogas. Em alguns casos, houve relatos de aumento da abordagem policial a motoboys.

Deslocamento progressivo de rotas para o sul do país

Técnicas de análise geoespacial empregadas no estudo sugerem que as apreensões de drogas pelas forças policiais mostram um deslocamento progressivo de rotas de tráfico de maconha em direção ao sul do país. Em 2020, o Rio Grande do Sul apresentou novos clusters que não estavam presentes em 2019, evidenciando essa convergência. Já no norte, as cidades de Pacaraima e Boa Vista aparecem como pontos de origem, provavelmente, para a maconha proveniente da Colômbia, que chega ao território nacional através das redes hidrográficas entre a região sul da Venezuela e o estado de Roraima.

Da mesma forma, no caso da cocaína, o Rio Grande do Sul apresentou, em 2020, clusters (agrupamentos) que não estavam presentes em 2019, o que também evidencia uma tendência de deslocamento progressivo da rota em direção ao sul do país semelhante ao da maconha. As rotas de transporte de cocaína se espalharam pelo Brasil e as organizações criminosas têm mirado novos destinos no mundo. No entanto, com as restrições de viagem, houve uma diminuição de apreensões de cocaína em aeroportos e em portos, ao mesmo tempo em que se observou uma diversificação nos portos utilizados, com aumento de apreensões da droga nos portos de Salvador, Ilhéus e Joinville. Além da diversificação nos portos de origem, também houve uma diversificação dos locais de destino da cocaína apreendida. Entre 2019 e 2020, Bélgica, Holanda, Espanha, França e Nigéria continuaram sendo os principais países para onde a droga seria enviada. No entanto, em 2020, as rotas abrangem a costa leste da África Central, Ásia Ocidental, Sudeste Asiático e, em menor grau, América do Norte.

Impacto socioeconômico

O impacto socioeconômico da pandemia da covid-19, com a elevação da pobreza e de outras vulnerabilidades, pode ter contribuído para a formação de um ambiente que favoreceu o aliciamento de mais pessoas para atuação no tráfico de drogas. Dados relativos aos Autos de Prisão em Flagrante, fornecidos pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), indicam o perfil de homens, negros, de baixa escolaridade e com inserção precária no mercado de trabalho como preponderante entre os presos envolvidos com tráfico de drogas.

MaconhaEm Mato Grosso do Sul, foi verificado, com os dados da Polícia Federal, um relevante aumento nas apreensões de cannabis a partir de fevereiro de 2020, destacando o mês de junho (68.628,7 kg) e o mês de abril, pelo fato de o volume de apreensões ter aumentado 284,8% em relação ao mês anterior. Foram 79.115,37 kg de maconha apreendidos em 2019 e 302.707,52 kg em 2020, sendo 0,08% e 0,02% desses, respectivamente, realizados nos aeroportos. Apesar do baixo percentual, as apreensões nos aeroportos de Corumbá e de Dourados somente ocorreram em 2019, enquanto houve aumento de 43,8% entre 2019 e 2020 no volume de apreensões no aeroporto de Campo Grande, indo de 49,5 kg para 71,2 kg. Com relação ao modal terrestre, cerca de 116.675,5 kg de maconha foram apreendidos nas rodovias federais em 2019, segundo os dados da Polícia Rodoviária Federal, aumentando cerca de 233,9% em 2020. Destaca-se Ponta Porã como o município com maior volume de apreensão em ambos os anos: 45.930,1 kg apreendidos em 2019 e 129.754,5 kg em 2020. Dourados e Água Clara também tiveram aumento expressivo de 120,5% e 244,1%, respectivamente. Os dados da SEJUSP reiteram o aumento no volume de apreensões de maconha e haxixe realizadas pelas forças de segurança de MS no ano de 2020. Ademais, indicam que essas apreensões ocorreram predominante no interior do estado.

Cocaína: Os dados da Polícia Federal informam que 4.938,1 kg de cocaína foram apreendidos em 2020 em Mato Grosso do Sul — uma redução de 26,1% em relação ao ano anterior. Ao observar por mês, foi possível verificar uma tendência decrescente até fevereiro de 2020, sendo observados dois volumes de apreensão elevados no período da pandemia, totalizando 1.014,0 kg em agosto de 2020 e 1.069,1 kg em outubro de 2020. Em dezembro de 2020, só houve apreensão de 2,3 kg de cocaína. Nos aeroportos, foi apreendida uma média de cerca de 8 kg de cocaína em cada ano analisado, sendo 4 kg em 2019 e 7,63 kg em 2020 no aeroporto de Campo Grande, além de 3,37 kg no aeroporto de Corumbá em 2019. Com relação às rodovias federais, segundo a Polícia Rodoviária Federal, 6.873,4 kg foram apreendidos em 126 apreensões realizadas em 2019 e 5.017,0 kg em 132 apreensões em 2020. Os elevados volumes apreendidos em 2019 foram registrados nos municípios de Dourados e Ponta Porã, os quais totalizaram 2.798,3 kg e 1.363,5 kg, respectivamente. Em contrapartida, em 2020, os municípios de Anastácio, Campo Grande e Miranda foram destaques, totalizando 580,8 kg, 511,8 kg e 496,4 kg apreendidos, na devida ordem. Essa redução no volume apreendido de cocaína entre 2019 e 2020 também pode ser vista sobre a relação capital e interior, ainda que o interior do estado permaneça como o local com os maiores volumes de apreensão. O fato de a redução ter sido observada com maior força no interior corrobora a informação de que há no estado uma lógica atacadista de distribuição para outras regiões no país. Uma baixa em menor intensidade na capital pode estar relacionada com o consumo (o qual foi mantido, segundo relatos).

Fonte: Tereré News.

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