Irlanda do Norte suspende controlos portuários devido a ameaças de grupos paramilitares

O Governo da Irlanda do Norte confirmou esta terça-feira que suspendeu temporariamente os controlos físicos a produtos de origem animal que entram na província britânica provenientes desde o resto do Reino Unido, dada a proliferação das ameaças de grupos paramilitares unionistas e a tensão crescente causada pela crise de vacinas com a União Europeia (UE).

O Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais (DAERA) vai-se reunir esta terça com a Polícia autónoma (PSNI) depois de manifestar a sua preocupação pela segurança dos trabalhadores nos portos de Belfast e Larne.

Nas últimas semanas apareceram graffitis ameaçadores nos bairros protestantes da região -com forte presença de paramilitares lealistas- descontentes com o chamado Protocolo sobre a Irlanda/Irlanda do Norte, um dos blocos de construção do Acordo de Saída da UE assinado por Londres e Bruxelas.

As autoridades locais dizem ter havido "um aumento de comportamento sinistro e ameaçador", com mensagens que descrevem os trabalhadores portuários "como alvos", o que está a causar "muita angústia e medo" entre estes.

Após o divórcio final entre o Reino Unido e a UE, a implementação no início do ano do referido protocolo multiplicou a burocracia nos pontos de entrada na província, o que causou problemas de abastecimento e escassez de certos produtos nos supermercados da Irlanda do Norte.

A tensão crescente atingiu o seu auge na sexta-feira passada, quando a Comissão Europeia (CE) considerou impor restrições à exportação de vacinas contra a covid-19 para a região, suspendendo unilateralmente o Protocolo sobre a Irlanda/Irlanda do Norte.

Esta salvaguarda, resultado de anos de intensas negociações, foi concebida para permitir a livre circulação de mercadorias entre as duas Irlandas e assim manter a fronteira aberta na ilha, fundamental para as suas respetivas economias, altamente ligadas, e para o processo de paz.

Em contrapartida, a UE protege o mercado único impondo controlos aduaneiros nos portos sobre as mercadorias que chegam à Irlanda do Norte provenientes da Grã-Bretanha (Escócia, País de Gales e Inglaterra).

Para além do descontentamento causado pela escassez de bens, existe agitação política entre a comunidade protestante, que considera que o protocolo dá à Irlanda do Norte um estatuto diferente do resto do Reino Unido e compromete a sua relação com Londres, para além de poder dar asas aos apoiantes da reunificação da Irlanda.

A primeira-ministra da Irlanda do Norte e líder do Partido Unionista Democrático (DUP), Arlene Foster, exigiu ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que removesse o protocolo e negociasse com Bruxelas um novo acordo.

Um porta-voz do DAERA explicou hoje que estão a "analisar a situação" nos portos de Belfast e Larne, embora, de momento, só serão efectuados "controlos documentais", enquanto as inspeções físicas de produtos de origem animal, tais como os que contêm carne, peixe, produtos lácteos ou ovos, serão suspensas.

O primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin, advertiu esta terça que a situação na Irlanda do Norte "é muito sinistra e feia": "Obviamente que faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para ajudar a acalmar as tensões".

Comunicado da Redação – Ariquemes Online
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