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A Terceira Margem – Parte CXXIII – Oriximiná/Óbidos/Santarém

Publicado em: 06/01/2021 - 12:00
A Terceira Margem – Parte CXXIII – Oriximiná/Óbidos/Santarém

Oriximiná/Óbidos/Santarém

 

Quando me encontrava em serviço ativo do Exército e dirigia os trabalhos da Inspeção de Fronteiras, executei pessoalmente a exploração e o levantamento do Rio Cuminá (1928/29), […]. Nestes trabalhos, serviram-me de guia os “Diários de Viagens”, manuscritos, do Reverendo Padre Nicolino José Rodrigues de Sousa, judiciosamente organizados, sob escrupulosa exatidão, e onde se encontram, como o leitor verá, considerações de ordem filosófica e interessantes pensamentos, que definem a arraigada fé católica do autor e denunciam os seus sentimentos elevados e filantrópicos.
(Cândido Mariano da Silva Rondon)

 

Eu havia confessado, durante minhas conversas ao jantar, à tripulação do Piquiatuba que a única carne que considero mais saborosa que a dos peixes amazônicos, como bom gaúcho da fronteira, é a de ovelha. Nunca imaginei que o Comandante Mário, sabendo disso, buscasse, por todos os meios, achar nas cercanias de Oriximiná, um carneiro para me oferecer uma churrascada na sua terra natal.

 

O animal foi carneado e assado às margens do belo Cuminá adornadas pelas vistosas taquaris em plena floração e degustado por toda a equipe, além da companhia muito agradável de seus pais.

 

Na véspera da partida para Santarém, o Mário levou-nos a bela Cachoeira do Jatuarana, com uma queda de 15 metros, que fica aproximadamente a 60 km da Cidade.

 

Partida de Oriximiná, PA (12.02.2012)

 

Deixávamos Oriximiná felizes por termos, mais uma vez, contado com o apoio irrestrito dos nossos Irmãos Maçons da Loja Vitória Régia n° 33, encabeçados pelo Irmão maçom Hamilton Souza (o Ariuca), o Capitão PM Marcelo Ribeiro Costa, Comandante de Oriximiná e seu Subcomandante Capitão PM Flávio Antônio Pires Maciel da gloriosa Polícia Militar do Estado do Pará. Acordamos cedo, antes de o Sol nascer, e às 06h15 (Horário de Brasília), chegamos ao trapiche onde estava a tripulação e o João Paulo. Parti às 06h30, ainda às escuras, num ritmo forte para vencer rapidamente os 50 km que me separavam de Óbidos. As águas fortes do Paraná do Cachoeiri emprestaram uma energia adicional ao Rio Trombetas e, a pouco mais de 12 km do meu destino, ao alcançar a Foz do Trombetas, foi a vez de as águas do Rio Amazonas reivindicarem sua autoridade e mostrarem toda sua pujança. A partir da Foz, o Rebelo resolveu me acompanhar e picamos a voga até as proximidades do Porto Hidroviário de Óbidos, onde aportamos às 11h00 depois de ter remado 04h30.

 

Óbidos, PA (13.02.2012)

 

O belo complexo arquitetônico, do século XVII, onde se destaca o Forte dos Pauxís além de outras centenas de edificações de arquitetura colonial portuguesa justificam o fato de Óbidos ser considerada “a mais portuguesa das cidades do Estado do Pará”. Chegamos à Cidade justamente durante a realização do seu maior evento turístico, o carnaval (Carnapauxis), que dura mais de uma semana.

 

Arraias

 

A bordo do Piquiatuba, eu observava o movimento dos pescadores que chegavam com suas embarcações para descarregar o pescado no Frigorífico Pasquarelli. Fiquei impressionado com o número e o tamanho das arraias tigradas de um barco de pescadores que aportou a bombordo do nosso barco, alguns destes animais tinham mais de um metro de diâmetro.

 

As arraias marinhas do Caribe, há milhões de anos, adentraram aos poucos nos Rios da Amazônia, se adaptando perfeitamente às águas doces. Pouco a pouco, estes animais foram estendendo seus limites aos Estados do Centro Oeste atingindo, por fim, a Bacia Paraná-Paraguai.

 

Acesso pelas Eclusas

 

As barragens das grandes hidrelétricas poderiam servir de obstáculo para a invasão destes colossais animais, mas, em algumas delas, como a de Porto Primavera (Rosana, SP) e Jupiá (Três Lagoas, MS), as arraias conseguem o livre trânsito graças às eclusas.

 

Quando os navios transpõem os desníveis dos Rios, as arraias e outros peixes aproveitam para pegar uma carona junto com as embarcações. As eclusas neutralizam, portanto, os sistemas de “transposição seletiva de peixes” a montante das barragens.

 

À tarde, o Vieira Lopes, tutor do “Coxinha”, nosso tripulante canino de 1ª Classe, veio pedir autorização para que o cãozinho permanecesse em Óbidos. Mesmo considerando os óbices da ausência de tão valoroso tripulante, autorizei. Confortavelmente instalado no Piquiatuba, eu acompanhava o movimento incessante de embarcações que entravam e saíam do Lago dos Pauxis ([1]). O senhor Valdir, um solitário pescador, ostentando orgulhosamente a camiseta do Flamengo, na sua pequena montaria, pescava de linha, a pouco mais de uma centena de metros da nossa embarcação. De repente, o imobilismo do fleumático pescador foi substituído pela agitação e, em movimentos rápidos, trouxe para bordo uma bela “Dourada”. Mais tarde, na companhia da Rosângela, passeando na voadeira, pilotada pelo Comandante Mário, nas cercanias da Serra da Escama, cruzamos com o seu Valdir que regressava para casa com diversos peixes lisos (de couro), pescados ali mesmo junto à Cidade. Infelizmente, nesse passeio, minha câmera fotográfica deu pane, as fotos saíam claras demais independentemente de se usar o modo “automático”, “manual” ou “personalizado”. Mais uma onerosa baixa no meu material de expedicionário.

 

Partida de Óbidos, PA (14.02.2012)

 

Na noite anterior, dormi muito pouco. Por volta da meia-noite, uma balsa do Posto Marreiro aportou junto à nossa embarcação com os motores ligados e iniciou o lento abastecimento de uma frota de caminhões de combustível, da mesma empresa, em terra.

 

Além do incômodo causado pelos gritos, assovios, buzinaços provocados pela tripulação da balsa e dos motoristas e o ronco do motor da balsa, acho que a segurança de todos aqueles que estavam estacionados nas proximidades ficou perigosamente comprometida. O Porto Hidroviário, a poucos metros, tem um movimento de passageiros considerável e um incidente com a transferência do combustível poderia ter causado uma tragédia de graves proporções. Parece-me que operações deste tipo devam ser levadas a efeito em locais apropriados onde não coloquem em risco as vidas alheias e onde haja equipamentos de segurança adequados em caso de sinistro.

 

Tentei telefonar dezenas de vezes para o “190” para saber se o procedimento era regular, mas não obtive nenhuma resposta. Enganei-me com o fuso horário e saímos quase uma hora atrasados. Desde Parintins que a operadora da “Claro” não dava sinais de vida e portanto o relógio continuava com o horário do Amazonas, uma hora a menos, embora estivéssemos praticamente na mesma Longitude. Foi o dia mais cansativo de todos, remamos das 06h17 da manhã até as três horas da tarde para percorrer aproximadamente 80 km, enfrentando ventos de proa superiores aos 35 km/h durante todo o tempo.

 

Senti fortes dores nas costas, o colchão do hotel de Oriximiná era muito macio, e, só agora, minha velha coluna, que já sofrera três cirurgias, sentia suas consequências. A pequena distância de Oriximiná a Óbidos não dera tempo nem mesmo da dor se instalar. Tentamos fazer uma parada na margem direita, mas a quantidade de troncos alinhados à margem ultrapassava uma centena de metros tornando isso impossível.

 

Conseguimos parar precariamente, depois de remar quase 70 km, em uma Ilha sobre a vegetação aquática. Chegamos cansados e satisfeitos, depois de remar mais de 85 km, pois a jornada do dia seguinte seria menos extensa.

 

Chegada em Santarém, PA (15.02.2012)

 

Dormimos bem, nenhum ruído a não ser o da chuva e dos ventos fortes do Quadrante Este durante toda a noite. Saímos, eu e meu filho João Paulo, antes do amanhecer, por volta das seis horas, com a determinação de atingir uma Ponta, à margem direita, que longe se vislumbrava ao clarear do dia.

 

Os ventos de proa forçaram-nos, novamente, a buscar a segurança da proximidade da margem diminuindo, com isso, a velocidade de deslocamento. Durante mais de duas horas sofremos com as fortes ondas até que, por volta das 08h30, o tempo melhorou e buscamos ganhar velocidade nos afastando da margem.

 

Por volta das 10h40, chegamos à Foz do Tapajós, embarcamos no Piquiatuba para colocar roupas adequadas para a chegada e determinei que o Soldado Marçal fosse até o Porto convidar os operadores de câmera de vídeo para subir a bordo da voadeira para realizar tomadas da chegada.

 

Graças ao apoio do Tenente-Coronel Sérgio Henrique Codelo, Comandante do 8° BEC, a Seção de Comunicação Social do Batalhão conseguiu que estivessem presentes ao Porto de Santarém as principais redes de TV locais e jornais.

 

O ponto alto da entrevista foi, sem dúvida, a “Chocolate”, nossa tripulante canina de 1ª Classe, adotada pelo grande amigo Soldado Marçal Washington Barbosa Santos. A recepção no 8° BEC também foi marcada, mais uma vez, pela inigualável fidalguia “azul turquesa”.

 

Ano que vem, se o Grande Arquiteto do Universo permitir e se os nossos amigos investidores colaborarem, iremos subir o Rio Tapajós pela margem esquerda até São Luís do Tapajós e descer pela margem direita. Este ano, embora o percurso fosse de 2.000 km, as colaborações ficaram abaixo dos 40%, comprometendo substancialmente o planejamento inicial.

Comunicado da Redação – Ariquemes Online
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