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Francisco Solano López – Parte VI – A Conquista de um Canhão

Publicado em: 28/05/2020 - 12:00
Francisco Solano López – Parte VI – A Conquista de um Canhão

 

XXX – A Conquista de um Canhão

 

Ainda uma vez voltamos ao combate de 3 de novembro de 1867, para nós fonte perene de onde dimanou a jorros a audácia, o valor e o heroísmo do Exército Nacional.

 

Aquele arrojado assalto, que se tornou imediatamente Batalha, porque nele intervieram todas as armas, todas as Forças de cada campo e todos os utensílios e acessórios bélicos, é também fonte inesgotável de episódios gloriosos e sem número, porque nele existiu e tomou parte, desde o Tenente-General Comandante, até a paupérrima, humilde e fraca mulher do soldado.

 

Naquela arena encontrou-se muito cadáver feminino entre os despojos mortais da vitória. Semelhante luta deixou muito homem viúvo, ao contrário do que ordinariamente se observa nas guerras em que a viuvez e sempre partilha do lado feminil. […] (PIMENTEL)

 

XLV – Uma Abordagem

 

Houve e há ainda quem empreste a Francisco Solano López qualidades militares que o elevam a General, na legítima acepção desta palavra.

 

Estes inventores de reputações, porém, eram aqueles que mais longe estavam de compreendê-las, não só por lhes faltarem qualidades para juízes, como porque nunca viram um acampamento senão pelas descrições dos livros e jornais.

 

A estes guerreiros platônicos, a que pitorescamente chamávamos “generais de botequins”, a estes “discursadores de boulevards”, que como certos navegadores só aprendem a conhecer a Barra depois de perdido o navio, opomos, não só a opinião de todos os chefes da Aliança, como a daqueles que de perto lhe apreciaram os atos, até que um houve um Ministro Americano – que o declarou fora da lei da humanidade, e também a narração seguinte que copiamos fielmente da Ordem do Dia n° 231, do General brasileiro Duque de Caxias. Verá por aí, o leitor, a vesânia ([1]), a preocupação constante de nunca modificar sequer plano algum que houvesse concebido em sua exaltada pretensão a General quando dava uma ordem de combate, qualquer que ela fosse.

 

Uma vez preconcebido seu Plano de Batalha, não havia poder humano que o modificasse mais. Inútil seria, pois, a mais salutar ponderação que lhe sugerisse o chefe encarregado dela, disto resultava que dispondo de Forças obedientes e bravas, de chefes de notória e, digamos mesmo, de audaciosa bravura.

 

Em nenhuma conta tinha essas excelentes qualidades de seu valoroso exército, e por isso nunca conseguiu, apesar desses bons elementos, obter a mais insignificante vitória, a não ser a da repulsa de Curupaiti, devido só e unicamente à enérgica direção do seu General Diaz. Eis o trecho da Ordem do Dia:

 

O Marechal Comandante-Chefe manda fazer público às Forças de seu comando que uma brilhante vitória foi alcançada pelo encouraçado “Barroso” e monitor “Rio Grande” ancorados em Taí, pertencente à valente divisão avançada.

 

Sua denodada Guarnição repeliu e destroçou completamente uma Força Paraguaia, que pelas 11 horas e meia da noite de 9 do corrente [julho de 1868] ousara abordar aqueles navios. Por um paraguaio, prisioneiro no combate, foi revelado a S. Exª o Sr. Marquês ([2]) que em S. Fernando, onde Lopez tem seu acampamento, havia-se organizado um Corpo de 260 praças, de gente escolhida de terra e mar, fazendo instruí-los nos exercícios de abordagem, com o propósito inabalável de apossar-se dos nossos encouraçados e que, tendo esse corpo atingido a exigida instrução, fora mandado passar para o Chaco no dia 9, conduzindo em carretas 20 canoas, a fim de dar um golpe-de-mão sobre o monitor “Rio Grande”, que López presumia ser o único fundeado na foz do rio Vermelho.

 

O comandante dessa expedição, porém, reconhecendo que em vez de um existiam dois encouraçados fundeados não no lugar indicado, mas sim nas proximidades de nossas baterias de Taí, participou a López, ponderando-lhe que julgava impossível a empresa da abordagem, mas que teve em contestação que cumprisse a ordem, investisse contra os dois navios e os aprisionasse! ([3]) Efetivamente, pelas onze e meia da noite de 9, vinte canoas carregadas de gente cercaram de improviso o “Barroso”.

 

Com o brado de – Inimigo! A postos! – dado pelo oficial de quarto ([4]), seu intrépido comandante, o Sr. Capitão-de-Fragata Arthur Silveira da Motta, dispondo a Guarnição de modo a rechaçar o inimigo, mandou romper o fogo de fuzilaria das portinholas das baterias e da parte superior da casamata, e metralhá-lo depois que ele teve a audácia de pisar o convés de seu navio, produzindo grande estrago e desordem entre eles, de modo que nenhum efeito resultou das granadas de mão, foguetes à Congrève ([5]) , materiais asfixiantes e inflamáveis, com que vinham armados, e lançavam pelas escotilhas.

 

Quando saía o comandante da casamata para a tolda, acompanhado do bravo Capitão-Tenente Etchebarne, alguns oficiais e marinheiros acabavam de destroçar os últimos paraguaios, que se agarravam às canoas emborcadas; alguns outros, desprendendo-se do costado do navio em uma chalana e na canoa do comandante, vogaram para o monitor “Rio Grande”, que então já seguia avante, aproximando-se do “Barroso”. Foi neste momento que se travou uma desesperada luta entre um grupo de paraguaios, que chegou a abordar o monitor, e o seu bravo comandante, o Capitão-Tenente Antônio Joaquim, que imprudentemente saíra ao convés com algumas praças, a fim de repelir a abordagem, do que resultou ser morto, sendo inúteis os esforços que fez a Guarnição para encontrar o seu cadáver, tendo sido, entretanto, também aí heroicamente rechaçada a abordagem com grande perda do inimigo.

 

Quase simultaneamente o Sr. Brigadeiro João Manoel Menna Barreto, deu as suas acertadas providências, mandando estender em linha o 40° Corpo de Voluntários sobre a margem do rio, para, com os seus fogos e os da metralha dos canhões do Forte, auxiliar os vapores atacados e completar a destruição do inimigo, tendo sido prisioneiros quatro Tenentes, um Alferes e dezenove Soldados que escaparam dos navios e procuravam a fuga por terra, asseverando o mesmo senhor Brigadeiro que poucos seriam os que tiveram a sorte de se salvar. A não se darem a morte do Capitão-Tenente Antônio Joaquim e o ferimento grave do Capitão-Tenente Etchebarne, seria a vitória mais completa que se poderia ambicionar, pois que, excetuando-se estes dois casos, apenas temos fora de combate dez praças feridas.

 

O grande número de mortos, prisioneiros, muitas granadas de mão, foguetes à Congrève, matérias inflamáveis e asfixiantes, espadas, lanças, carabinas, revólveres, remos, croques e doze canoas, porque, das vinte, seis foram destruídas e apenas duas levadas pelo inimigo águas abaixo para o Timbó, são os troféus da vitória conquistados pela Esquadra, que tem sabido sustentar o posto de honra que tão dignamente ocupa.

 

Segue-se o louvor do Chefe ao Capitão-de-Fragata Silveira da Motta, ao Capitão-Tenente Etchebarne e ao 2° Tenente Simplício Gonçalves de Oliveira, que na luta assumiu a direção do “Rio Grande” por morte de Antônio Joaquim. Tudo isto pareceria fabuloso, se não fora verdadeiro!

 

O Marechal López mandou atacar dois encouraçados, enviando contra eles apenas 260 homens em 20 canoas, sujeitos, além disso, ao fogo de uma forte bateria situada na barranca de Taí e sustentado por cerca de 4.000 homens de infantaria, que por sua vez garantiam a segurança dos navios.

 

Eis o general que os ignorantes inventaram! (PIMENTEL)

 

Bibliografia:

 

PIMENTEL, Joaquim Silvério de Azevedo. Episódios Militares – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Editor Tipografia a Vapor A. dos Santos, 1887.

 

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

·    Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·    Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

·    Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·    Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·    Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·    Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·    Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·    Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·    Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·    Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·    Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·    Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·    Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·    E-mail: [email protected].

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