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A cólera da vergonha

Publicado em: 21/09/2018 - 12:00
A cólera da vergonha

 

As mãos ainda cheiram a lixívia três dias depois da visita ao Centro de Tratamento de Cólera (CTC) de Maradi. A solução de cloro a 0,05% é obrigatória após a lavagem das mãos com água e sabão cada vez que se passa uma das 'fronteiras' internas daquele campo, que foi construído para combater a epidemia de cólera que grassa no sul do Níger e norte da Nigéria. As solas dos sapatos têm também obrigatoriamente de mergulhar numa solução desinfetante de composição semelhante.

Isto passa-se na entrada do campo, na triagem, nas zonas das enfermarias de homens e mulheres e na zona reservada à convalescença. A cada porta de entrada ou saída… o levantar dos pés, um após o outro, resulta numa coreografia de rigor de procedimento para quem quer que se movimente no CTC.

 

 

Desinfeção à entrada e à saída das enfermarias

 

 

“Tem de ser”, diz Gabriel, um dos responsáveis pela logística e formação específica dos quadros para o combate à epidemia, sejam eles médicos, enfermeiros ou higienistas. Desinfeta-se à entrada e à saída, para não trazer nem levar a doença.

As pessoas contaminadas com cólera que chegam ao centro de Maradi vêm de um arco geográfico alargado das províncias do sul do Níger, um país com uma área equivalente à França e à Alemanha combinadas, que ocupa o penúltimo lugar no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. Os distritos de Maradi e Madarounfa são os mais afetados pelo trânsito na fronteira com a Nigéria, situada a escassos 40 quilómetros para sul, a uma distância semelhante da cidade de Kano (no centro do norte da Nigéria).

O CTC dispõe de 50 camas e foi propositadamente construído numa área isolada de tudo, afastado da estrada, longe de povoações e concentrações de pessoas, e a eficácia dos tratamentos aos doentes que tem recebido é visível. As mortes representam apenas 2% numa fase em que a epidemia ainda está a espalhar-se.

 

 

Mulheres na enfermaria escondem a cara das fotografia

 

 

Contudo, adoecer com cólera é sinónimo de vergonha. As pessoas escondem que estão infetadas e adiam pedir ajuda. É de preferência à noite que se dirigem aos centros para não serem vistas pelas suas comunidades. O estigma é quase exclusivo da cólera e é o fator que mais contribui para que as pessoas cheguem demasiado desidratadas e fracas ao tratamento. Pode-se morrer de desidratação em apenas algumas horas a seguir ao contágio, dependendo do estado de saúde e resistência do doente.

“O tratamento da cólera é simples, no fundo basta hidratar as pessoas, afastá-las dos fatores de contaminação e elas voltam quase milagrosamente à vida”, explica Gabriel. Faz-se a reidratação, aplica-se o protocolo nacional de tratamento, atacam-se as doenças associadas, fornecem-se no centro três refeições por dia livres de contaminação aos doentes e em dois, três dias, eles estão curados. Saem com um kit constituído por água potável, sabão para lavar as mãos e soro. Uma vez livres de perigo, passam a ser peças fundamentais na divulgação dos procedimentos.

MORREM POUCOS, MAS MORREM POR POUCO

Esta é a semana 37: registaram-se 2752 casos, 442 dos quais vêm da Nigéria (17%), 55 mortos (2%). A resposta arrancou “três preciosas semanas tarde demais”, confessam os responsáveis pela operação de combate à epidemia. Eles sabem bem que, a este ritmo de surgimento de novos casos, a epidemia vai durar meses. Depois dos primeiros casos registados em início de julho, só em 5 de setembro se realizou uma reunião transfronteiriça para coordenar esforços em Jibia, na Nigéria, e só em 10 de setembro se junta à gestão da epidemia no Níger o apoio do projeto Rediss III (regional) do Níger. 
“A mutualização dos esforços dos parceiros é essencial para o sucesso da operação”, diz Gabriel.

 

 

O fornecimento de água potável é vital para a recuperação dos doentes

 

 

Até agora, o número de pessoas contaminadas ainda está a aumentar e os parceiros da operação têm consciência de que, para lá da intervenção médica, reativa por natureza, o maior investimento que podem fazer para travar a crise é na prevenção, que depende da educação das populações.

Uma equipa de 45 pessoas já visitou 1400 lares de doentes e vizinhos, fez desinfeções sistemáticas, deu conta de casos suspeitos e referiu-os aos centros de tratamento e hospitais. São incansáveis na formação porta a porta, explicam os sintomas, ensinam a agir e princípios de higiene e pedem que se passe a palavra.

“O problema é a falta de informação das populações. Pedimos ajuda ao Sultão de Maradi que fizesse um apelo à população via rádio.” O imã aproveita também os momentos de reunião da congregação religiosa para falar das medidas necessárias ao combate da cólera. A sensibilização via rádio é feita em hausa e zarma, as duas línguas nigerinas.

“Num meio urbano como este, se não houver investimento não vamos conseguir inverter a curva de contágio”, diz Gabriel. A batalha está longe de estar ganha. Na semana anterior, foram diagnosticados nove casos de cólera na prisão central de Maradi, onde 500 prisioneiros ocupam umas instalações calculadas para 250. Depois de feito o primeiro rastreio e a desinfeção possível, o cenário é claro para os responsáveis da saúde: “Se explodir dentro da prisão, a situação ficará completamente fora de controlo”, diz Abass Assoumane, o diretor do CTC de Maradi.

O Expresso viajou a convite da ECHO (European Civil Protection and Humanitarian Aid Operations)

 

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